Exercícios corporais que estimulam o cérebro
O método Bertazzo é para aquelas pessoas que buscam algo além do condicionamento físico tradicional.
O trabalho corporal aqui explora o alinhamento das articulações, o gesto, a expressão individual.
Ensinada na Escola do Movimento, em São Paulo, a metodologia desenvolvida pelo coreógrafo está sendo compilada em livros.
CÉREBRO ATIVO
O primeiro livro da trilogia, "Corpo Vivo", foi lançado em 2010. Agora, acaba de sair o segundo volume, "Cérebro Ativo" (Edições Sesc/Manole, 272 págs., R$ 180).
Falar nessa relação entre cabeça e corpo é pensar na tão difundida quanto mal compreendida expressão "consciência corporal".
O termo ainda era restrito ao papo de grupos alternativos quando
Bertazzo criou sua escola e passou a mostrar a diferença entre o gesto
voluntário, "consciente", e o movimento automatizado.
Sua técnica de reeducação do movimento influenciou a maioria dos trabalhos corporais desenvolvidos no Brasil.
Foi nos anos 1970 que ele começou a trabalhar com a educação do corpo
tanto para cidadãos comuns quanto para profissionais como dançarinos ou
terapeutas.
Sua ideia agora, com os livros, é difundir o conhecimento adquirido em
viagens de pesquisa, espetáculos e em mais de 30 anos de aulas.
"A linguagem do livro é muito singela. Se eu falar de certos
funcionamentos do corpo para sua tia, ela vai me olhar com cara de
paisagem. De que forma devo falar para que ela fique intrigada e se
interesse?", diz Bertazzo.
Usar "cérebro" no título de uma obra que traz sequências detalhadas de
exercícios para ensinar a pessoa a manter-se ereta, respirar melhor ou
equilibrar uma bandeja já é uma forma de ser intrigante.
O que une pensamento e movimento é a organização motora, explica
Bertazzo. E o que mantém a cabeça ativa é o estado de prontidão para
organizar articulações e músculos em cada atividade. "Todo movimento
voluntariamente executado vai recrutar áreas cerebrais", afirma o
professor.
Uma das funções mais importantes da ginástica, segundo ele, é acordar os órgãos proprioceptores.
"Esses órgãos são como sensores localizados nos músculos, tendões e
ligamentos. Eles informam o cérebro sobre a posição do corpo."
Os exercícios ensinados no livro mandam novas informações para o
cérebro, que, além de criar mais conexões nervosas, também vai acumular
um maior repertório neuromotor para a execução de movimentos.
"Se eu armazeno essas experiências motoras, tenho mais ferramentas para
driblar pelo menos uma parte das limitações que podem surgir ao longo da
vida, seja no processo de envelhecimento ou num acidente bobo como
torcer o pé", afirma.
Para tornar o processo mais eficaz, Bertazzo ensina o que fazer antes e depois de cada exercício.
"É como fazer um bolo. Organize os ingredientes. A preparação, quando
você recruta articulações e músculos, desencadeia atos mentais e
processos conscientes."
Ele também recomenda uma atenção especial à finalização do movimento. "É
importante aprender a desacelerar a força desencadeada por cada ação."
GESTOS HÁBEIS
Mas nunca se trata, aqui, de usar muita força ou velocidade. Bertazzo
defende a inclusão de exercícios de psicomotricidade fina (aquela que é
usada, por exemplo, para escrever) em qualquer programa de atividade
física.
"Com gestos hábeis e milimetricamente ajustáveis, você usa muitíssimos
neurônios. Mas muita gente elimina isso da ginástica. Toda aula deveria
ter pelo menos dez minutos de trabalho psicomotor fino."
Se as academias não oferecem, ele sugere a inclusão desse trabalho no dia a dia.
Por exemplo, cozinhando um prato especial (com salsinha bem picada) ou
aprendendo algum novo trabalho manual: bordar, fazer crochê.
"Isso é muito importante em fases difíceis da vida, como em uma
separação ou mudança de emprego. Nesses momentos, o aprendizado motor
torna a pessoa hábil, inteligente. Imediatamente vem a sensação de
solidez e ela fica mais confiante."
SONS
Bertazzo também insiste na importância de soltar a voz na realização dos exercícios.
Bertazzo também insiste na importância de soltar a voz na realização dos exercícios.
"Não é para gritar e mostrar que você é um animal maravilhoso. Mas
expirar forte é emitir sons. E a maioria das pessoas mal expira quando
faz ginástica", afirma.
O que mais causa lesão, diz ele, é deixar o corpo e a cabeça funcionando
no automático. "Muitas pessoas agem como se bastasse falar para o corpo
'vai' para ele obedecer e executar ações necessárias. Aí que elas se
estropiam."
Quando a cabeça funciona, o corpo não padece. E vice-versa.