ACROBATAS DE DEUS
Eu sou uma bailarina. Eu acredito que nós aprendemos através da prática. Seja aprender a dançar praticando dança ou aprender a viver praticando a vida, os princípios são os mesmos. Em cada um é o exercício de um dedicado e preciso conjunto de atos, físicos ou intelectuais, de onde vem a forma da realização, o sentido de nosso ser, uma satisfação do espírito. Nos tornamos em alguma área um atleta de Deus.
Eu sou uma bailarina. Eu acredito que nós aprendemos através da prática. Seja aprender a dançar praticando dança ou aprender a viver praticando a vida, os princípios são os mesmos. Em cada um é o exercício de um dedicado e preciso conjunto de atos, físicos ou intelectuais, de onde vem a forma da realização, o sentido de nosso ser, uma satisfação do espírito. Nos tornamos em alguma área um atleta de Deus.
Prática significa apresentar-se sempre e sempre encarando todos os obstáculos, um tipo de ato de visão, fé e desejo. A prática é o meio de atrair a perfeição desejada.
Eu acho que a razão pela qual a dança tem assegurado esta magia perene para o mundo é porque ela tem sido o símbolo da performance da vida. Muitas vezes eu escuto a frase...”a dança da vida.” É próximo para mim por uma razão muito simples e compreensível. O instrumento pelo qual a dança fala é também o instrumento a vida é vivida... o corpo humano. É o instrumento pelo qual todas as existências primárias se manifestam. Tem em sua memória todas as questões da vida, da morte e do amor. Dançar parece glamouroso, fácil e encantador. Mas o caminho para o paraíso desta realização não é mais fácil do que nenhuma outra. Existe fadiga tão grande que o corpo chora, mesmo no seu sono. Existem tempos de completa frustação, existem pequenas mortes diárias. Então, eu preciso de todo o conforto que a prática armazenou na minha memória e tenacidade de fé. Mas tem que ser o tipo de fé que Abrão teve quando “não vacilou diante da promessa de Deus por descrença.”
Leva-se mais ou menos dez anos para se fazer um bailarino maduro. O treinamento tem dois aspectos. Existe o estudo e a prática para fortalecer a estrutura muscular do corpo. O corpo é moldado, disciplinado, honrado, e, no tempo certo, merece confiança. O movimento nunca mente. É um barômetro falando sobre as condições da alma para todos os que podem lê-lo. Esta pode ser chamada de lei da vida do bailarino a lei que governa seus aspectos externos.
Do outro lado tem o cultivo do ser. É através desta prática que lendas das jornadas da alma são contadas com toda sua comédia e tragédia, amargura e doçura de viver. É neste ponto que o impulso da vida alcança a mera personalidade de executor e enquanto o indivíduo, o indiviso, torna-se maior, o pessoal se torna menos pessoal. E aí existe a graça. Eu digo, a graça que resulta da fé...fé na vida, no amor, nas pessoas, no ato de dançar. Tudo isto é necessário para qualquer atividade na vida que é magnética, poderosa, rica em significado.
Em um bailarino, existe a reverência por coisas esquecidas como o milagre dos pequenos, bonitos ossos e sua delicada força. Em um pensador existe a reverência à beleza da mente alerta direcionada e lúcida. Em todos nós que nos apresentamos em um palco, existe uma consciência do sorriso, é parte do equipamento ou dom do acrobata. Todos caminhamos na corda bamba das circunstâncias de vez em quando. Reconhecemos a gravidade da terra e ele também, o sorriso está lá porque está praticando viver naquele instante de perigo. Ele não escolhe cair.
...Martha Graham